PCC: O Império Criminoso-Empresarial

A Evolução do PCC: De Narcotráfico a Conglomerado Empresarial
A Operação Carbono Oculto, deflagrada em 28 de agosto de 2025, expôs a assustadora transformação do Primeiro Comando da Capital (PCC). De organização focada no narcotráfico, o PCC se tornou um sofisticado conglomerado empresarial criminoso, com tentáculos em diversos setores da economia legal, movimentando bilhões de dólares.

A operação, que envolveu 1.400 agentes, desmantelou parte de uma rede que ia de postos de gasolina periféricos a escritórios na Avenida Faria Lima, o centro financeiro de São Paulo. O esquema criminoso, estimado em US$ 9,6 bilhões apenas no setor de combustíveis, demonstra a capacidade do PCC de se infiltrar profundamente na economia formal, representando uma séria ameaça à segurança pública e à integridade dos mercados brasileiros e internacionais.
A Estratégia 'Follow the Products'
O estudo 'Follow the Products', do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), destaca a ineficiência da tradicional estratégia de 'seguir o dinheiro' ('follow the money') no combate ao crime organizado. A nova abordagem, 'seguir os produtos' ('follow the products'), foca nas cadeias de suprimentos de bens lícitos, como combustíveis, que se tornaram o principal meio de lavagem de dinheiro e geração de lucros para facções como o PCC.
O FBSP estima que a receita ilícita da infiltração em quatro mercados legais chega a US$ 27 bilhões anuais, superando o lucro estimado com o tráfico de cocaína (US$ 2,8 bilhões). O setor de combustíveis lidera com US$ 11,3 bilhões, demonstrando a eficácia da estratégia de integração do PCC na economia formal.
Integração Vertical no Setor de Combustíveis
A operação Carbono Oculto revelou a estratégia de integração vertical do PCC no setor de combustíveis. A facção controla toda a cadeia de valor, desde a importação fraudulenta de matérias-primas (metanol, nafta e diesel) por meio de empresas de fachada até a venda final em mais de 1.000 postos de gasolina em dez estados.
O PCC controla a produção e adulteração de combustíveis, com quatro usinas de álcool e uma frota de 1.600 caminhões. Os postos de gasolina, além de gerar lucro direto com a venda de combustível adulterado, servem como lavanderia de dinheiro, movimentando US$ 10 bilhões entre 2020 e 2024, com sonegação fiscal estimada entre US$ 1,4 bilhões e US$ 1,6 bilhões. Postos fantasmas também foram usados para justificar transferências de capital.
O Papel do Sistema Financeiro
O sistema financeiro foi crucial para a movimentação dessas cifras astronômicas. O PCC utilizou fintechs como bancos paralelos, explorando brechas regulatórias. Uma única instituição movimentou US$ 8,5 bilhões, usando contas de bolso em bancos comerciais sem identificar os clientes finais.
O dinheiro lavado foi reinvestido na Avenida Faria Lima, onde o PCC controla pelo menos 40 fundos de investimento com um patrimônio de US$ 5,5 bilhões, usados para adquirir usinas, um terminal portuário, a frota de caminhões e mais de 100 imóveis de luxo. A investigação atingiu grandes nomes do mercado financeiro, como Reag Investimentos, Banco Genial, Trustee e BK Bank.
Cooperação Internacional e o Desafio da Responsabilização
A operação Carbono Oculto é um marco na cooperação interinstitucional, unindo Receita Federal, Ministérios Públicos, Polícia Federal e agências reguladoras. O desafio agora é responsabilizar os facilitadores de colarinho branco: gestores de fundos, advogados e contadores que forneceram expertise e legitimidade ao esquema.
Perseguir esses atores é crucial para atacar a infraestrutura intelectual do conglomerado criminoso. A presença do PCC se estende a 28 países, com Portugal como principal base na Europa. O alerta é que o PCC exporta seu modelo de negócio, infiltrando-se em setores da economia legal europeia para lavar dinheiro e estabelecer uma fachada empresarial duradoura.
A cooperação entre Brasil e Portugal é vital, mas precisa evoluir para incluir unidades de inteligência financeira e autoridades fiscais da União Europeia. A operação Carbono Oculto revela a evolução do crime para uma forma híbrida, corporativa e globalizada. A resposta deve ser igualmente sofisticada e integrada, reconhecendo que a batalha se estende além das ruas, para as planilhas e os mercados financeiros.
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